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Missão (quase) impossível: sair de Varanasi

INDIA | Saturday, 8 November 2008 | Views [1347]

Combinei com Juana, a brasileira de Recife, de nos encontrarmos na estação de trem de Varanasi às 11:15 para pegarmos o trem das 12:15 com destino a Satna. Conforme informações - que busquei no da anterior, na cabine oficial de informações da estação - a viagem leva 6 horas e o valor na classe Sleeper (nem das melhores, nem das piores) é 160 rúpias (pouco mais de 3 dólares). Como estrangeiros têm que comprar o bilhete numa salinha especial que tem até ar condicionado (uau!), penso que chegar com uma hora de antecedência é suficiente. Mas... na Índia nada é simples. Entro na salinha de estrangeiros toda saltitante para comprar os bilhetes enquanto Juana olha nossas mochilas. Oh-oh! A salinha está... simplesmente... abarrotada de gente!!!! Conto mais de 20 na minha frente e o único sujeito que está atendendo não está com pressa nenhuma. Diria que está mais lento que um caramujo baiano. Passam 10 minutos e ele continua atendendo a mesma pessoa. Interrompo para perguntar se ele acha que terei tempo de pegar o trem que sai às 12:15. Ele nem me olha e responde “da noite de hoje? Não, aqui não é nada para o mesmo dia, é só para reservar para outros dias!”. Ah. Ele acha que eu quero comprar pra noite de hoje e diz que não é possível. E... ué, sonhei ou ele disse que aqui é só pra reservar pra outro dia???? Melhor perguntar de novo, bem devagar. Ele pode não ter entendido o que eu quis dizer. Oh-oh! É isso mesmo, na sala VIP dos estrangeiros não vende bilhete pro mesmo dia! E isso ninguém me avisou antes... Descubro (da pior forma possível) que os estrangeiros têm que reservar os bilhetes e assentos com alguns dias de antecedência – provavelmente para não se assustarem com o caos e a desorganização que rola nos trens. O fato é que esta é a primeira vez que vou usar um trem na Índia e não sabia disso, e ninguém me avisou ontem, quando vim perguntar sobre os horários. A solução, então, é tentar comprar o bilhete num guichê da “vida real”. Lá vou eu. Enquanto estou na fila do primeiro guichê que encontro pela frente um segurança super bem intencionado, que tentava me ajudar desde o início, me tira da fila e me coloca em outra. Quer dizer, fila é jeito de falar. Os indianos não estão familiarizados com a palavra fila. Aliás, fico imaginando de onde surgiu o termo “fila indiana”. Tenho absoluta certeza que não foi nenhuma referência, ainda que remota, à Índia. Enfim, quando finalmente chega minha vez o atendente, muito mal-humorado, ri na minha cara e diz que ali é só pra trocar reservas já existentes. Diz que eu tenho que ir pra uma outra fila do outro lado da estação. Lá vou eu. Chegando no lugar indicado, encontro mais de 10 guichês, todos lotados, e o primeiro diz “Ladies only”. Oba, uma fila só para mulheres! É aqui que eu vou! Eu sou a mulher mais alta da fila e a única que não usa um saree, de modo que viro a atração do recinto. Percebo que alguns homens folgados mandaram suas esposas pra fila “ladies only” e ficam palpitando impacientes o tempo todo. A enorme fila anda um pouco e, pra evitar entrar numa poça (sabe-lá-de-quê) eu não me movo. Uma senhorinha com um ar muito inocente se infiltra, como quem não quer nada, na minha frente. E o marido da mulher que está atrás de mim a manda entrar na minha frente. Como é???? Hello-o!!!! Por acaso eu sou invisível aqui, meu filho??? Uepa! Hora de colocar ordem na casa!!!! Educadamente mando a senhorinha para o fim da fila e tiro a outra furona da minha frente. Faço cara de má (muito má!) e digo ao homem que aquele é meu lugar! Tá pensando que aqui é a casa da mãe Joana, cabra da peste??? Nessa fila ninguém fala inglês, de modo que a comunicação é por mímica. Por isso a importância da cara de má. Quando estou perto o suficiente do guichê para ver o que acontece, noto que rola um tremendo furdunço no balcão. Várias pessoas ignoram a fila chegando perto do guichê com o dinheiro, gritando, fazendo um fuzuê e desorganizando mais ainda o caos. Em resumo, arruínam a fila. E o meu trem sai em 20 minutos. Ai, me vejo obrigada a organizar a fila. Ninguém me entende – e já que ninguém me entende eu falo em inglês, português, espanhol, língua do pê... e vou ajeitando as pessoas na fila e tirando as furonas. Infelizmente chego à conclusão de que, na Índia, tem mais força quem fala mais alto. Eles estão acostumados a turistas europeus e americanos, que são tremendamente polidos e nunca reclamam, e dos quais eles fazem gato e sapato. Bom, os turistas até reclamam, coitados, mas o indianos fingem que não entendem e continuam agindo como se nada fosse, e os estrangeiros desistem de prosseguir com a reclamação. Mas veja só, basta uma atitude firme e uma cara beeeeeem má pra eles entenderem rapidinho! Quando está quase chegando a minha vez começa novo furdunço. Até homens tentando furar a fila “ladies only” agora, era só o que me faltava! Desesperada pra sair daquela cidade horrorosa (e, mais ainda, da fila) eu começo um escândalo. Em português, mesmo, já que seja lá que eu disser ninguém vai entender. O importante, como eu já disse, é a cara de má. As pessoas me olham com cara de quem pensa “Uma turista estrangeira fazendo escândalo na Índia! Onde esse mundo vai parar?” O homem do guichê fica atônito, bate furiosamente no vidro mas as furonas nem se lixam. Aaaaah, mas hoje me baixou um espírito de leão-de-chácara e eu parto novamente para a organização da fila. Mando as furonas – com seus maridos marrrrcriados – para o fim da fila. Só com palavras não adianta (problemas de idioma...), então tenho que conduzi-las pelo caminho. Assim me faço entender. Pronto. E agora é minha vez. Aaaaaai. Não. Não tem mais lugar pra classe Sleeper. Nem pras classes superiores. Só pra uma bem inferior, a mais inferiorzinha de todas. Numa comparação didática: se o trem fosse um estádio de futebol e a viagem fosse a final de campeonato brasileiro, a ingresso seria para a “geral”. Preço 77 rúpias (menos de 2 dólares). Pense, Lina, pense rápido. É agüentar 6 horas na subclasse do trem ou mais 24 horas nessa cidade. “Ok, ok, ok, me dê essa mesmo, moço, deixa eu correr pra pegar o trem!” - O que, cá entre nós, na verdade significava “rapaaaaaz, não agüento mais essa cidaaaaade, me tira daqui de qualquer jeito, eu vou nesse trem nem que seja surfando no teto!!!!!” Saio correndo, encontro Juana (ela já estava achando que eu tinha sido engolida por uma vaca) e partimos pra procurar nosso trem, que está... ATRASADO, claro! Afinal, alguém já viu um trem sair no horário na Índia????

Tags: trem varanasi india bagunça

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