Esta manhã foi o ponto alto da Índia pra mim.
Acordamos às 5:30 para chegar ao Taj Mahal bem cedo, no seu horário de abertura, às 6:00. Queremos ver a luz do nascer do sol refletir no mármore do monumento, o que supostamente deve ser uma visão emudecedora.
Pra quem sempre ouviu falar mas nunca teve muita certeza do que se trata: o Taj Mahal é um mausoléu e o mais conhecido dos monumentos da Índia. O imperador Shah Jahan mandou construí-lo em memória de sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal ("A jóia do palácio"). Ela morreu após dar à luz o 14º filho, tendo o Taj Mahal sido construído sobre seu túmulo, junto ao rio Yamuna. Por isso, o Taj Mahal é também conhecido como a maior prova de amor do mundo, contendo inscrições retiradas do Corão.
A origem do nome é objeto de controvérsias, mas a versão que mais me convence é a de que a palavra "Taj" provem do persa, linguagem da corte mogol, e significa "Coroa", enquanto "Mahal" é uma variante curta de Mumtaz Mahal. Taj Mahal, então, refere-se à "coroa de Mahal", a amada esposa de Shah Jahan.
A obra foi feita entre 1630 e 1652 com a força de cerca de 22 mil homens, trazidos de várias cidades do Oriente. É incrustado com pedras semipreciosas, tais como o lápis-lazúli entre outras. É classificado pela UNESCO como Património da Humanidade e e, 2007 foi anunciado como uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno.
Mas enfim... Compramos nosso ingresso a 750 rúpias (algo como 15 dólares), que é o preço para estrangeiros. Indianos pagam 20 rúpias, o que acho justo, pois eles têm que ter acesso aos seus monumentos.
Apesar do horário, há duas longas filas: uma para homens e outra para mulheres. Todos passam por revista pessoal e em suas bolsas e mochilas. Vendo o aviso sobre restrições para a entrada, antes de entrar já passo na chapelaria para deixar o tripé da minha câmera. Não permitem a entrada com uma série de objetos e vejo pessoas tendo que voltar para deixar fios, I-pods e até canetas marca-texto. Karina é uma dessas, tem que voltar porque o guarda da entrada decide que o carregador da bateria de máquina que está em sua bolsa não pode entrar.
O lado de dentro é absolutamente distinto de tudo o mais que vimos na Índia desde nossa chegada, há uma semana. É de uma tranqüilidade que eu não esperava, jamais, encontrar em Agra. O contrário de todo o caos, pobreza e sujeira que temos visto por todos os lados.
Caminhamos lentamente pelo páteo até a entrada do monumento que dá acesso ao Taj e... É como a visão de uma obra de arte perfeita!! Dali se vê o Taj ao fundo, inteirinho, emoldurado pela porta em estilo oriental do monumento que atravessamos. Parece mesmo uma pintura! A névoa da manhã (ou o efeito da poluição, difícil definir o que é) me dá a impressão de que o Taj está flutuando em nuvens. Que é um desenho, ou uma ilusão, que flutua em nuvens. É majestoso, de longe a coisa mais maravilhosa que já vi na vida dentre as construídas pelo homem.
Não pensávamos que ficaríamos muito tempo, mas duas horas se passam sem que nos demos conta. O mausoléu central está cheio de visitantes barulhentos, o que retira toda a atmosfera mágica do ambiente. Mas acho que, quando no mais absoluto silêncio, o lugar deve ser como um templo.
Saímos extasiadas, felizes e embasbacadas com a beleza do Taj Mahal. Vê-lo ao vivo é muito, mas muito diferente mesmo de vê-lo por fotos ou pela televisão. A grandeza da obra e a perfeição dos seus detalhes é de impressionar qualquer um, é algo que intimida e arrepia. Os detalhes coloridos do monumento são pedras de diversos tipos cortadas de modo a encaixar no mármore previamente talhado no formato dos desenhos. Nunca vi nada tão perfeito, de fato é de uma perfeição assustadora.
Entre a rua e a entrada do Taj há que se caminhar por cerca de 1,5km no interior do que me pareceu um parque. Durante o trajeto da volta, além do esperado e infalível assédio de vááários vendedores de quinquilharias turísticas, cruzamos três homens que levam um pequeno corpo sem vida. Um bebê. Um dos homens ia à frente, carregando o corpinho enrolado em papelão e jornal e enfeitado com uma flor. Olho quando passam e posso ver a cabecinha do bebê, mas não vejo seu rosto. Os outros dois homens apenas o seguem, em silêncio. Não sei para onde vão, mas adivinho que realizarão algum ritual local. Nos disseram que os bebês, diferentemente dos adultos, não são cremados quando morrem, mas apenas jogados no rio.
Faço um pensamento pelo bebezinho e por sua família, e especialmente por sua mãe.
Após visitar o impressionante monumento, que nada mais é que um espetacular mausoléu, e cruzar com os homens carregando o bebê, não posso deixar de pensar no quanto a morte está presente em nossa vida.