Gente louca é assim né...acorda as 5h45 da madruga, ainda porque a querida amiga coreana acorda ela pra isso. Se arruma, termina de fechar as malas, escova dente, arruma cabelo, faz tudo e desce. Faz o check out com o cara da recepção olhando meio estranho pra você dizendo que você está fazendo o check out antes do tempo. Dai a pessoa louca nem ai com a hora do Brasil, pois estava mais preocupada em perder o trem do que qualquer coisa vai pra estação. Cinco minutos depois, chega na estação e começa a procurar o trem. Nada..nada no quadro de avisos. N-A-D-A.
Decide olhar a passagem só pra se certificar da hora e vê: Passagem para o dia 08/09. Moçooooo que dia é hoje por favor? Dia 7. Pasmo. Fico quieta e começo a rir descompassadamente. Coisa de gente louca entende? Eu descubro no acaso que tenho mais um dia de viagem. Mais um dia em Florença. Mais um dia para aproveitar. Sem crer..e rindo muito, volto pro albergue. O rapaz da recepção só ri quando me vê. É Cristian, vc estava certo, ainda tenho mais um dia, posso subir pra dar uma cochilada? Claro Vanessinha, nem fiz o check out, sabia que você voltaria.
Vou pra cama, e nem sei o que pensar. Não sei o que fazer na verdade. Tento dormir, mas ganhar um dia assim..ai é ouro viu. Penso penso, cochilo. Abre uma fresta de luz, algumas pessoas do quarto levantam. Agora estou no quarto e só tem meninas. A maioria é chinesa e coreana, não entendo nada quando elas conversam. Penso no que fazer. Cinque Terre ou Pisa? Grande dúvida. Não dava pra fazer os dois. Levanto e abro a internet, vamos ver os preços, agora no final da viagem tudo é uma questão de valores. Olho, olho..o que fazer? Bem..da pra ir a Cinque? Sim, 10 euros pra ir, 10 euros pra voltar. 2h50 min de viagem. Saindo cedo teria umas 6 horas pra fazer as vilas. E Pisa? Bem, Pisa só tem a torre..e eu queria tanto ir pra Cinque Terre. Decidido. Vou pra Cinque. Durmo mais um pouco.
Deitada de novo a amiga coreana me chacoalha, VANESSAAA VC PERDEU O TREM. Ai paro pra contar pra ela o que aconteceu, temos uma crise de risadas no quarto e decidimos descer pra tomar café. O tempo? FECHADO. NUBLADO. Como ir pra Cinque Terre com o tempo assim me diz? Decisão dificil, mas necessária. Tomo café com as coreanas, que mais riem da minha história do que outra coisa. Aliás o próprio Britânico me vê com um certo espanto. A Mônica cruza comigo na escada e diz o que você está fazendo aqui? Perdeu o trem? Não...mais uma história e sequências de risadas. Sentada termino meu café e coloco a bateria da camera pra carregar. Alex desce e só ri. Olha pra mim me abraça e diz, eu até tinha ficado meio triste que você estava indo embora..sua cia foi fantástica ontem. (a recíproca é verdadeira!!). Olho o tempo e falo pra Alex onde vou. Ela sorri e diz..mais um sonho pra pegar com a mão certo? CERTO! Mais um sonho.
Subo me arrumo e desço com um ticket de Santa Severa, vou dar ao brasileiro que conhecemos ontem, Guilherme, ele irá aproveitar. Outra cara de espanto quando ele me vê e depois felicidade quando entrego a ele o ticket. Vou fazer cinque sozinha. Preciso deste caminho na minha alma.
E lá vou eu. Pego o trem. Ouço música, a paisagem é ESTONTEANTE (vejam as fotos depois). Enlouqueci. Troco de trem e na primeira estação chego a Riomaggiore. A última (mas a primeira pra mim). Sigo uma dica do Jorge do blog (http://giramundo.wordpress.com/2007/04/15/italia-parque-nacional-de-cinqueterre) Compro o ticket, e me dirijo ao caminho. Este último trecho é conhecido também como Via D'amore ou Via do Amor. Beirando a costa do parque nacional Riomaggiore é a parte mais romântica do caminho e neste trecho encontro milhares de cadeados dos amores que já passaram por ali. Há trilha sonora, meu amigo Tatu Szember, que faz lindas músicas instrumentais transforma a paisagem em algo melhor, se é que isso é possível.
Vou percorrendo o caminho e fotografando. Lembro do Eber, e das fotos fantásticas que ele tirou aqui. Meu coração está totalmente entregue. Há uma comemoração inerte a mim. Tem muitas pessoas no caminho. Compro o primeiro postal e o mais lindo de todos que comprei: Vernazza meu objetivo, a quarta vila de Cinque Terre. Quero colocar meu pé na água lá, mas pra tanto vou trilhar o caminho, são 7 kilometros até lá.
Penso em muitas coisas e nas tantas vezes que disse que não acreditaria mais no amor. É dificil ter um coração tão calejado. Mas tenho fé que Deus há de colocar o homem certo na minha vida, eu só preciso ter um pouco mais de paciência e calma (coisas que as vezes penso que não me pertencem). Penso em alguém especial (sei que você sabe que pensei em vc..com um imenso carinho). Estou feliz..muito.
Logo depois de 20 min encontro a segunda vila Manarola. Uma pequena e simples. Fotografo. Logo torno a caminhar, a trilha é dificil..rs..um pouquinho só para quem não anda muito preparada para trilhas. Meia hora depois estou em Corniglia. Linda. Vejo pessoas mergulhando na água limpa e linda de Cinque. Momentos mágicos que ficarão eternamente na minha lembrança. Agora chego na parte mais dificil da trilha. São 1h30 de uma dura caminhada com subidas e descidas. Encontro crianças com pais. Senhoras e senhores com mais pique do que eu. Mudo a trilha, um sambinha pra cantar. Passo por várias pessoas, inclusive brasileiros. Canso. Descanso. Alguém tira uma fotografia minha lá. Voltamos a caminhar..confesso que estou cansada. Desligo o rádio e só penso no quanto será linda a imagem que verei quando estiver em Vernazza. Todo caminho árduo leva a um objetivo explêndido encontro escrito no meio do caminho em português. Choro porque Deus é muito maravilhoso na minha vida. Um dia a mais para pegar mais um sonho com a mão.
A visão de Vernazza é a parte mais preciosa da minha viagem. Foram precisos muitos dias, muitas horas, encontros e desencontros pra chegar até aqui. Foi preciso muito trabalho. Muita dúvida. Muito desespero. Foi necessário me descobrir como ser humano e mais ainda descobrir a Vanessa fantástica que habita em mim. Mais um sonho. Tudo é realidade e quero só cantar..."Se você quer me seguir..não é seguro...você não vai me trancar num quarto escuro.." as pessoas me olham e um senhor grita: Felicitá! Sim. Felicidade.
Fotografo, fotografo e fotografo. Quero tudo guardadinho. Desço e chego a areia. Hora de tirar o tenis e sentar um pouco. Sentir a água. Ficar ali contemplando a beleza do mundo, que também me pertence. há crianças na água, pessoas..muitos turistas. Os locais tentam sobreviver na loucura ali. Volto a colocar o tenis e procuro novos ângulos pra fotografar. Meu segundo postal vem dali, da noite de Vernazza, já que eu não poderei dormir ali. Olho a hora e percebo que tenho tempo de pegar algo pra comer e ir pra estação. Na hora que paro pra comprar algo pra comer o menino italiano é só sorriso. Disse que eu tranbordava felicidade.
Na estação vou até La Spezia e tenho que comprar outro ticket. Tem uma fila enorme e eu só tenho 20 min. Um cara domina a máquina e não consigo comprar o ticket. DESESPERO. Como vou embora? COnsigo comprar e corro..corro corro..perdi o trem. Outra solução? Ir até Pisa e de lá pegar um trem pra Florença. Ok. Vamos lá. O intervalo de troca de trem seria de exatamente 5 min. EU TERIA QUE CORRER MUITO!! Encontrar a estação para Florença e ir. 5 Min. Ouço música no vagão e um Angolano conversa comigo e me diz pra ficar calma, a estação é praticamente do lado da nossa..eu não vou perder o trem. Conversei muito com ele e ele me chamou de corajosa por viajar sozinha.
Descemos e calmamente vamos até a estação. Nada do trem. Tranquilo ele diz, viu, você não vai perder o trem (parece até meu anjo da guarda conversando comigo..rs.). De certo não perdi mesmo. Vamos conversando e me despeço dele. Chego a Firenze sem fome, sem sono, sem nada. Uma paz. Sento vejo as fotos, mostro as fotos. E tento escrever mais um post..estou muito atrasada com as escritas do blog..rs.me perdoem..
Quando dá 00:30 descido dormir e peço pra outra coreana me acordar. No dia seguinte terei mesmo que estar as 06:30 na estação pra ir embora.
Manarola uma das 5 vilas.
