Como era esperado, o Canadá é um paraíso para
qualquer viajante independente. Tudo extremamente organizado, pessoas
solícitas, ambiente seguro. Não esperava encontrar nenhum problema por aqui,
como de fato até agora não encontrei.
O que eu senti aqui foi... uma grande inveja
dos canadenses! Como eles vivem bem, trabalham na medida e são conscientes de
tudo o que têm e do que querem manter.
Vancouver, por exemplo, é uma cidade
absolutamente encantadora. Por todos os lados para que se olhe há verde, muito
verde! Muitos parques, muitas árvores, muita natureza. E as pessoas sabem
aproveitar e dar valor. Conheci diversos canadenses que vão trabalhar de
bicicleta! Isso mesmo, de bike! A população local está se esforçando para deixar
o carro em casa porque sabe que a crise do petróleo pode arrasar com a vida de
todos, e a prefeitura dá uma força com a construção de ciclovias. Não daquelas
ciclovias sem-vergonha que a gente ouve falar por aí, que levam do nada ao
lugar nenhum. Ou que percorrem apenas dois quarteirõezinhos, nada disso! São
longos caminhos que realmente ligam pontos importantes da cidade. E a população, incentivada, adere.
Evita o trânsito e ainda fica em forma, olha que máximo!!!!
Bom, de acordo com uma pesquisa da Mercer Human
Resources Consulting de 2007, Vancouver é a terceira cidade no ranking mundial
de qualidade de vida (perdendo apenas para Zurique e Genebra, ambas na Suíça) e
a 10a cidade mais limpa do mundo! Ora, com esses dados era de se esperar que o custo de vida
fosse altíssimo, certo? Claro! Vancouver é a 89a cidade mais cara do
mundo pra se viver! Mas o mais chocante pra mim foi perceber que São Paulo
(sim, nossa Gotham City tupiniquim), nesse ranking,
está em 62o lugar, ou seja, nós gastamos mais pra viver (beeeeeem)
pior.
Ainda sobre Vancouver, fiquei sabendo que a
prefeitura só aprova projetos de construção de condomínios se estes contarem
com um percentual relevante (não sei qual) de área verde. Jardins, mesmo, não
vale um par de vasinhos de plantas na cobertura! E, pelo que pude testemunhar,
não há exceções, não há “jeitinho” que faça o projeto ser aprovado sem a devida
área verde. E, mais importante, há fiscalização (efetiva, por autoridade
não-corrupta), de modo que, como vocês podem imaginar, funciona.
Todos esses elogios não significam que
Vancouver é o mundo de Alice. A cidade tem problemas, sim, e não são poucos.
Numa de minhas caminhadas de exploração, acabei indo parar na pior parte da cidade,
Gastown, onde havia sido orientada a não ir. Ali vi pessoas esqueléticas se
drogando em plena luz do dia, na rua. Muito triste. Mas, apesar da minha óbvia cara de turista,
não fui abordada e ninguém tentou me roubar.
Numa inevitável comparação – afinal, o que eles
têm que nós não temos, por que não somos assim também? – cheguei à conclusão de
que o sucesso da cidade é resultado da postura dos seus habitantes. Claro, existe, sim, o contexto
histórico da colonização e desenvolvimento do Canadá versus o dos países
latino-americanos em geral, é inegável que isso contribuiu imensamente para a
forma como vivemos no presente. Mas... caramba, depois de tanto tempo, por que
não saímos do buraco???
Definitivamente, acho que é pela nossa postura.
Nossa postura de achar muito natural que nossos jornais tragam diariamente
notícias sobre pessoas mortas em assaltos nas ruas, muitas vezes em plena luz
do dia; assaltos em faróis, seqüestros, arrombamentos; pessoas quase morrendo
que tem que esperar horas em intermináveis filas de hospitais públicos por um
mísero atendimento... e, pior de tudo, nossa postura perante a forma como a
corrupção corre solta pelo governo em absolutamente todos os seus níveis!
Apenas esclarecendo, eu sou apartidária e não
estou fazendo crítica a nenhum político ou partido específico, mas à classe de
uma forma geral. Malditos #☁☠!!! Eles
metem a mão, a gente não faz NADA e ainda por cima reelege os
bandidos!!!
Acho que no fundo a gente merece...