Começando a desvendar a misteriosa Índia
INDIA | Wednesday, 15 January 2014 | Views [520] | Comments [4]
Templo em Trivandrum
Por pura coincidência, escolhemos a cidade de Kochi para entrarmos na Índia. Como nossos planos são dar uma boa vasculhada neste país de proporções continentais, decidimos começar pelo sul e ir subindo devagar. Fiquei surpresa ao saber que foi em Kochi que os primeiros europeus, os portugueses com Vasco da Gama, chegaram à Índia em 1498, descobrindo assim “o famoso Caminho das Índias”. Repetimos de certa forma o trajeto e achei isso muito auspicioso.
Chegamos muito receosos, com dois pés atrás, diante de tudo que já havíamos lido e conversado sobre o país. Preparados para o caos, assédio, confusão, barulho...Todos repetem que nunca se está preparado o suficiente para conhecer a Índia. Mas para a nossa surpresa a saída do aeroporto foi super tranquila. Ninguém, absolutamente ninguém nos abordou, nem para oferecer um taxi! Uau, isso aqui está melhor que o Rio de Janeiro, rsrs! Aliás, não foi nada particular, não havia assédio em cima de ninguém. Parece que esse país é capaz de surpreender mesmo!
Nos hospedamos em Fort Kochi, um bairro cheio de lojinhas e restaurantes para turistas que a princípio nos pareceu bem simpático. Mas sinceramente, depois de visitar todos os pontos turísticos concluímos: uma droga. Não dá pra acreditar no que os estrangeiros acham bacana e que está sugerido nos guias e blogs de viagens: um forte que não existe mais; umas 20 redes chinesas de pesca no meio de uma imundície danada (parece-me que só para turista ver); uma praia muito suja, sem ninguém com coragem de tomar banho, nem mesmo os indianos; um pequeno cemitério holandês sempre fechado e cheio de mato; um calor castigante; duas igrejas católicas que são as mais antigas da Índia (isso pode ser interessante) e... ponto final. E todos acham isso o máximo. Mas acho que entendi. O sul é menos turístico e geralmente as pessoas que vem para cá já visitaram a parte mais estressante da Índia que é o norte. Então deparam com cidades mais tranquilas, com menos assédio aos turistas, uma comida típica diferente e muito saborosa e mais sossego. Um país à parte, talvez seja isso.
Mas nem tudo foi perdido. Assistimos uma apresentação dança Kathakali muito impressionante. É a dança típica do estado do Kerala, onde estamos. Vimos os dançarinos se maquiarem por mais de uma hora antes do espetáculo. Utilizam óleo de coco que esfregam em diversas pedras para obterem cores distintas. Isso foi um show à parte muito interessante. Depois eles demostram os movimentos básicos da dança, que são expressões faciais e corporais usando pouquíssimos músculos com uma precisão absurda. Um dos espetáculos de arte mais impressionantes eu já vi. Valeu o dia!
Muito bacana também foi um passeio pelos Backwaters, para vermos as casas- barco e a vida dos ribeirinhos. Especialmente quando navegamos de canoa por um riacho estreito e visitamos um jardim de especiarias, onde conheci uma florzinha amarela minúscula, conhecida por ‘eletric flower’, usada contra dor de dente. Mastiguei um pedacinho e fiquei com a língua bem anestesiada por muito tempo. Está decidido: ao invés de usar anestesia meus pacientes irão receber uma pétala dessa flor antes de iniciar o tratamento, rsrsr!
E o almoço servido na folha de bananeira é muito prático e higiênico. Além da mesa ficar muito linda. Acho que também vou adotar essa!
Seguimos para outra cidade, Varkala e adoramos! Vilarejo de praia em cima de uma falésia, cheio de pousadinhas, lojinhas e restaurantes. Point de doidões do mundo todo. Muitas aulas de yoga, tratamentos ayurvédicos e o maior alto astral. Bem a nossa praia e com algumas curiosidades.
Água do mar quentinha, aparentemente tranquila, mas bem perigosa devido às correntes. É uma das praias mais perigosas da Índia, mas tem muitos salva-vidas que fazem um trabalho preventivo bem bacana. Ao invés de ficarem sentados esperando alguém se afogar, eles ficam andando de um lado para o outro, apitando e mandando as pessoas saírem do fundo do mar. Não deixam ninguém ultrapassar a área onde as ondas se quebram. Também não deixam os indianos nadarem perto das turistas de biquíni. Os caras impõe moral mesmo! Achei isso muito bacana, e é assim também em Kovalam, outra praia que visitamos mais ao sul.
Numa das praias há uma área com uns rezadores hindus debaixo de guarda-sóis, procurados pelos indianos para fazer orações e pequenas cerimônias para eles. Ali não se pode usar traje de banho e tem um clima muito místico e sério.
Consegui me inscrever no site oficial da companhia de trens daqui, missão que todos julgavam impossível, e que tem facilitado muito nossa vida. Minha persistência valeu a pena e estamos viajando confortavelmente de trem até agora, e isso aqui na Índia significa assentos marcados, ar condicionado, camas com lençóis e travesseiros limpos, além de certa privacidade.
Passamos uns dias em Trivandrum, uma cidade grande e não turística. Éramos os únicos hóspedes ocidentais em um dos principais hotéis da cidade. E por incrível que parece o primeiro hotel sem internet disponível. Além disso, os restaurantes não tem wi-fi. Encontramos o que intitulam ‘internet café’, mas nada disso, era só uma Lan House quente pra dedéu. Ainda não havíamos ficado desconectados até então, e não havia percebido como estamos acostumados. Talvez mal acostumados.
Uma cidade não turística tem suas vantagens. Se conhece mais da realidade do povo, sem interferências de outras culturas e também sem tanta extorsão aos estrangeiros. Por outro lado há menos facilidades que as áreas turísticas oferecerem, como restaurantes, cardápio em vários idiomas, ATM (máquinas para sacar dinheiro), acesso fácil a internet e outros viajantes perdidos no mundo para dar dicas.
Passamos uma semana conhecendo um pouco do sul e nos adaptando. Dizem que a Índia pode te receber de braços abertos ou não. E você pode então amá-la ou odiá-la. Não depende de nós. Fomos bem acolhidos... que sorte a nossa!
Então partimos para o Ashram do Sivananda. E isso é uma história a parte.
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