Descendo a costa da Croácia
CROATIA | Monday, 18 August 2008 | Views [3240] | Comments [2]
Bom, depois de ter respondido a um anúncio pregado no Hostel de Bern de alguém procurando travel buddies pra uma viagem de carro e conhecido os “aventureiros” pessoalmente, me juntei ao grupo pra uma trip pela costa da Croácia.
Voltei pra Bern no domingo (10.08), na segunda (11.08) aproveitamos o dia pra fazer compras e na terça de manhã partimos. Deixei minha mochila-master na casa da tia-avó de Chris, nosso motorista e dono do carro, e tive que realmente praticar meu “poder de síntese” de modo que tudo o que eu precisasse durante duas semanas coubesse dentro de uma mochilinha dessas normais. Afinal, a viagem seria num esquema super roots e o carro estaria cheio de apetrechos (colchão, barraca, comida, fogão de acampamento, etc), além das mochilas dos meus dois travel buddies – Christian e Mark, ambos australianos. Chris, na verdade, é Suíço – pai e mãe suíços e nasceu em Bern - mas se mudou pra Austrália pequeno e, embora possua dupla cidadania, se considera australiano. Posso dizer que meu poder de síntese foi tão fantástico que minha mochila está até menor que a dos meninos!
Terça, 12.08.2008
U-hu, tudo pronto, partimos! Sob uma chuva horrorosa, mas partimos, em busca do sol da Croácia! Nosso roteiro, saindo de Bern, passará pela Áustria e Eslovênia. O banco traseiro foi parcialmente desmontado para que tudo coubesse dentro do automóvel e, à noite, tudo pudesse ser acomodado de forma que Chris consiga abrir o colchão e dormir dentro do carro. Ou seja, há assento para apenas uma pessoa atrás, ao lado das panelas e da caixa com a comida. Eu e Mark nos revezamos no banco da frente – cada dia um, e quem estiver na frente terá que ler os mapas e guiar o motorista.
Nosso grupo é bem poliglota. Nós todos falamos ingles, Chris fala alemão e suíço-alemão, eu falo português e espanhol - e, embora não fale, entendo um pouco de italiano e francês - e Mark fala um pouco de japonês. Bom, o japonês não está sendo muito útil pra gente mas nunca de sabe, né?
Depois de algumas muitas horas de estrada paramos em Innsbruck, na Áustria. A cidadezinha é linda e o centro de acampamento foi OK. Foi muito chato que choveu à noite – e a chuva batendo na barraca atrapalha bastante pra dormir, especialmente se você considerar que já há uma certa dificuldade de dormir sem colchão, com apenas o saco de dormir e o isolante da barraca entre seu corpo e a grama – mas achei tranqüilo. Mais tranquilo ainda foi o preço pela hospedagem: 8 euros pra cada um! Fala sério, gente, nesse esquema eu conseguiria dar 3 voltas ao mundo!!!!!
A cada dia me surpreendo mais com minha capacidade de adaptação! Eu achava fantástico conseguir transitar naturalmente de hostels (albergues) a resorts 5 estrelas, conheço poucas pessoas que conseguem, mas agora realmente me superei. Transitar com naturalidade do CAMPING a um resort 5 estrelas (e ainda por cima achar tudo super legal, do zero ao 100, e encarar as dificuldades com bom humor) é mesmo uma habilidade incrível que eu tenho! Taí, quando as pessoas pedem pra você citar uma qualidade sua eu sempre vou lembrar dessa. Eu só consegui pensar em UMA pessoa que levaria isso tão na esportiva quanto eu: Clau Terrafino, claro! Depois de nossa “saga-perrengue” pelo Maranhão em 2006 eu tenho certeza que ela encara qualquer parada!
Quarta, 13.08.2008
Resolvemos alterar um pouco o roteiro por uma questão de custo. Mark está viajando num orçamento beeeeeem apertado e o grupo todo tem que cooperar e entrar no mesmo esquema. Assim, para evitar pagar 35 euros por um selo (obrigatório) que nos permitiria transitar pela Eslovênia decidimos fazer o caminho pela Itália. Era meu dia de ser o GPS do grupo e, em algum momento, na tentativa de fazer um “atalho”, eu acabei nos tirando da auto-estrada e nos colocando numa estrada local, de muitas curvas e velocidade bem mais baixa, mas de paisagens lindas. Isso acabou atrasando a viagem um pouco, mas passamos por vilinhas muito belas e no final das contas valeu a pena!!! Acampamos numa cidadezinha de montanha chamada Forni di Sopra, num centro de camping cuja grama era bem mais macia pra montar a barraca. Como nada é assim tão perfeito, logo percebemos que a noite não seria fácil, pois estava frio.
Vocês devem se lembrar que eu estou perseguindo o verão, portanto minha mochila-master já não tem muita coisa pra tempo frio... imagine minha mochila-síntese, então! Seja como for, depois do banho (quente, ufa!) por um milagre acabei dormindo super bem e não tive frio – santo saco de dormir! E de novo choveu a noite toda...
Quinta, 14.08.2008
O dia amanheceu nublado mas – U-hu, otimismo, vamos atrás do sol!!!!! Estava indo tudo super bem até chegarmos em Trieste, última cidade na Itália, e descobrirmos que todo nosso longo desvio não havia servido pra nada: simplesmente não há um caminho para a Croácia que não passe pela Eslovênia!!! Havíamos sacado em Euros apenas o suficiente para nossa passagem pela Áustria e Itália, no local da parada em Trieste não havia caixas eletrônicos e o tal selo só poderia ser pago em dinheiro! Sem muita escolha, tivemos que nos juntar e contar as moedinhas de Euro pra comprar o selo que, pregado no pára-brisas do carro, nos garantiria o direito de transitar pela Eslovênia por 6 meses. Porra, 6 meses?????? Quem precisa de 6 meses? Queremos só atravessar rapidinho! Bom, mas a Eslovênia é assim mesmo, pessoal, não tem o que fazer... U-hu, otimismo, galera, vamos lá, parece que o sol está saindo!!!!
Animadíssimos, cruzamos a fronteira da Eslovênia e paramos em uma barraquinha na estrada pra um lanchinho - na esperança de que eles aceitassem cartão de crédito, claro, pois não tiramos dinheiro local. Pela Lei de Murphy vocês já podem concluir que eles não aceitavam cartão, mas... aceitavam Euros! Ai, que bom! Aliás, qual era o maldito guia supostamente atualizado em 2008 que dizia que a Eslovênia ainda não utiliza a porra do Euro??? Pois essa é, sim, a moeda oficial da Eslovênia, pombas!!!!! Aliás, segundo o rapaz da barraca de lanches (que tinha as pontas dos dedos e as unhas pretas, mas vamos deixar esse detalhe pra lá) a Eslovênia já usa o Euro como moeda oficial há dois anos!
Mais uma vez contando as moedinhas (dessa vez os centavinhos, afundando a mão nos bolsos, procurando pelo chão do carro...) conseguimos comer um sanduichinho cada um. O sujeito das unhas sujinhas que trabalhava na barraca orgulhosamente disse que era fã de Ayrton Senna e Felipe Massa, mas por mais que eu tenha tentado isso não nos garantiu um descontinho especial nos sandubas, de modo que com as moedinhas encontradas não conseguirmos beber nada. Sabe como é, negócios são negócios no mundo todo e ninguém dá desconto só porque você é muuuuuuuuito legal e nasceu no mesmo país de uns camaradas que você admira pela TV! Resultado: sobrei com apenas 7 centavos de Euro e sem refrigerante, água ou qualquer coisa líquida pra ajudar o sanduba a descer.
Mas... OK, U-HUUU, saímos da Eslovênia, agora vamos entrar na Croácia!
U-hu, está um sol lindo!!!! Praia, praia, praia!
Mas… Quando entregava os passaportes, Chris perguntou se deveria reportar um dano no carro – ele havia lido (naquele mesmo guia que dizia que a Eslovênia ainda não usa o Euro) que é preciso reportar qualquer amassadinho no carro quando se entra na Croácia, ou na saída você pode ter problemas, pois eles podem achar que você bateu dentro da Croácia e não vão querer que escape sem pagar os danos.
Hum... a comunicação em inglês não pareceu muito efetiva em princípio, mas nos mandaram encostar o carro e sair (enquanto todos os demais carros passavam sem problemas). Certo, deve ser pra fazer um relatório do amassado. Mas… logo apareceu uma policial muito simpática, que se identificou como da polícia criminal, acompanhada de um guarda.
Hummm… polícia criminal pra uns amassados no veículo??
Enfim, foram super educados, nos trataram super bem e nos levaram pra uma salinha. Ela explicou sobre a política anti-drogas na Croácia e, isso dito, falou que se confessássemos que trazíamos drogas (!!!!!) tudo seria resolvido em 20 minutos e ninguém teria problemas. Por outro lado, se negássemos e eles encontrassem qualquer coisa na minuciosa busca que fariam pelo carro e por nossas malas - com cães farejadores - poderíamos ser presos por 10 dias a 3 meses, estaríamos sujeitos a multa de 3.000 euros e não poderíamos entrar na Croácia por 2 anos! Além disso nossas embaixadas seriam avisadas e seríamos deportados (!!!!!!).
Rapaz, por essa eu não esperava!!!!
Considerando que eu ia viajar com estranhos, esse foi um ponto que eu discuti séria, direta e abertamente com meus travel buddies ANTES da viagem – pois a última coisa que quero é me envolver nesse tipo de confusão!
A “autoridade” usou vários artifícios pra obter nossa “confissão” e, dentre outras coisas, disse dispunha de testes que mostrariam se tínhamos usado drogas num período de não-sei-quanto-tempo. “E então, o que vocês estão trazendo? Cocaína, haxixe?” (!!!!) Diante das nossas negativas ela respondia que não acreditava. “Posso segurar vocês por até 6 horas aqui nessa sala, e se o cachorro farejador blablabla...”
De saco cheio, Mark diz “ok, se não acredita na gente faça logo esses testes, essa busca no carro, bote esses cachorros pra trabalhar que assim podemos ir embora mais rápido”.
Tensão na sala. Kate Marrone da Croácia nos encara um a um. Aí… sorri e diz “ok, eu acredito em vocês. Não vamos fazer busca nenhuma no carro nem aplicar testes de drogas em vocês. Desculpe, mas esse é apenas o meu trabalho. Boa viagem e aproveitem a Croácia.”
Acabou?!??
A sensação foi como se alguém tivesse dito “aaaaaaah, pegadinhaaaaa!!!” e tivesse mostrado onde estava a câmera escondida. Saímos de lá rindo, mas... Sei lá, a gente ouve tantas histórias... Se isso tivesse acontecido na Bolívia, Colômbia ou mesmo Brasil... acho que mesmo não levando droga nenhuma não conseguiríamos ir embora sem deixar uma “cervejinha” pras “autoridades”. Além disso, ok, eu tinha perguntado pros meus buddies e eles juraram de pé junto que não rolariam drogas, mas... E se tivessem mentido??? Bom, de qualquer forma, o fato é que não mentiram, eu estou na Croácia e não na América do Sul, e tudo deu certo.
Com isso chegamos ao nosso primeiro destino na Croácia, uma cidade litorânea chamada Pula, na região de Istria. Mar Adriático. Ai, que sol lindo, que água linda, que lugar maravilhoso! Gente, eu tinha tããããão uma outra idéia da Croácia!!! O fato é que eu estava completamente equivocada!
Bom, tudo em Pula é lindo mas há duas ressalvas: as praias não são de areia, e sim de pedras. Todo mundo anda na praia com sapatinhos (desses tipo pra hidroginástica) pra evitar machucar os pés. A segunda ressalva é que a água é in-fes-ta-da de ouriços-do-mar desde a beirinha, são tantos que até de fora da água dá pra vê-los. Mais uma boa razão pra ir à praia com os sapatinhos de palhaço.
A região é muito frequentada pelos europeus em geral, mas especialmente pelos italianos. De fato, italiano é uma “segunda língua” na Croácia, a maioria das pessoas fala ou pelo menos tem noções de italiano. Muitos sinais estão em croata e italiano, e portanto minhas parcas noções da língua estão sendo de grande valia por aqui.
Estamos nos revezando pra cozinhar e lavar a louça do jantar. Hoje pela primeira vez foi meu dia de cozinhar... Embora eu tenha tido uns pequenos incidentes (contornáveis) com os ovos, o meu macarrão por sorte deu certo e ficou até bem gostoso. Não tive a mesma sorte com o banho... Mark tomou banho cedo e a água estava quentíssima, mas eu e Chris deixamos pra mais tarde e acabamos com água gelada! Bom, eu não liguei muito porque gosto de água gelada no calor, mas Chris voltou reclamando - ainda mais porque viu uns adolescentes lavando louças com a torneira quente a todo vapor um pouco antes.
Meus travel buddies dizem que estão gostando de uma garota no grupo pois eu imponho uma certa “organização” e níveis mínimos de higiene. Eles disseram, por exemplo, que se eu não tivesse tido a “brilhante” idéia de colocar o queijo dentro de um “tapauer” que vagava vazio pelo veículo eles provavelmente ainda o estariam levando jogado em algum canto do carro ou, quem sabe, no bolso. O uso correto de um canivete suíço pra abrir latas também parece ter sido uma grande novidade na vida desses moços: eles até usavam a ferramente certa, mas da forma errada, o que fazia a lata ficar completamente desfigurada (e a comida dentro, idem).
Sexta, 15.08.2008
Hoje não foi exatamente um bom dia...
A chuva está nos perseguindo!!!!! Na madrugada começou a chover muuuuito e continua garoando. Não rola praia.
Além disso, Chris está muito mal de gripe, mal consegue abrir os olhos. Estamos estagnados nesse camping chuvoso de Pula porque ele não vi conseguir dirigir hoje.
Sábado, 16.08.2008
Pára tudo, não parou de chover ainda!!!
Ontem à noite acabou a luz no camping – por sorte eu já tinha tomado banho. Mais uma noite com chuva na barraca... Certo, eu continuo levando tudo numa boa mas a verdade é que quase não me divirto na chuva. Se não estivesse chovendo eu estaria muito mais feliz.
Bastou desarmarmos a barraca (na chuva) e guardarmos as coisas (molhadas) no carro para a chuva diminuir. Quando estávamos na recepção do camping, pagando, ela já havia parado. Fomos embora, em busca do sol, e logo descobrimos um dos maiores problemas da Croácia (na minha opinião): o trânsito!!!!! Me senti viajando pro litoral norte de São Paulo num feriado prolongado em pleno verão!
Sendo meu dia de GPS, optei por guiar o grupo por uma estrada que não ia pela costa, ao menos até chegarmos em Rijeka, nossa próxima parada. E não é que funcionou??
Como Rijeka nos pareceu uma cidade sem nenhum charme especial, continuamos em frente até encontrarmos um lugar simpático pra montar acampamento. Encontramos um camping em.... Bom, não lembro o nome do lugar, mas ficava bem na costa em frente a uma praia linda! Excelente! As “facilities” (banheiros e chuveiros) não eram lá essas coisas, mas... Por 8 euros por pessoa não dá nem pra reclamar. E o principal: não há nuvens no céu!
E... Ei, o que é aquilo ali?? Presente dos céus??? Lua cheia! Mas... Ei, peraí... Tô vesga ou... Sim, é sim! Aquilo é um ECLIPSE lunar!!!! O primeiro que me lembro de ter visto na vida! Amei, amei, amei! Como não tenho conseguido usar a internet, não tenho lido notícias (não consigo ler os jornais locais, estão em croata) e não sabia do eclipse, o que tornou a surpresa ainda mais especial!
Estou adorando a Croácia!
Domingo, 17.08.2008
Que dia lindo, que dia lindo, que dia lindo!!!! A Croácia com sol é deslumbrante!!!!!!! E olha que dormir e acordar ao lado do mar só nos custou 8 euros por pessoa!
Aproveitamos o “camping site”, ou melhor, a maravilhosa praia do camping, por toda a manhã. Só não foi perfeito porque praia de pedra não é praia de verdade, né? Ok, só pra deixar claro que as NOSSAS praias no Brasil são pelo menos tão lindas quanto as croatas!
À tarde continuamos descendo a costa, rumo ao sul, e quando Chris ficou cansado de dirigir paramos em uma dessas casinhas que alugam quartos, tipo pousadinhas. É algo realmente grande na Croácia, isso! A cada 20m tem um anúncio (em alemão, italiano, croata e inglês) de alguém que aluga quartos. A comunicação com a senhorinha não foi fácil, mas ao final o resultado: por 12 euros cada teríamos um quarto DE VERDADE, com uma cama DE VERDADE, um banheiro de gente e um chuveiro quente. O pobretão-mor do grupo votou contra (ele insistia em acampar) mas foi voto vencido. Yes!