08/04: O
trem de Varsóvia pra Berlim era leito, mas era tão apertado que chegava a ser
engraçado. Eram cabines de 6 camas, de cada lado tinham 3 camas, uma em cima da
outra. Eu fiquei na mais alta. Se eu me mexesse um pouco, batia a cabeça no
teto. Não recomendo para claustrofóbicos. No entanto, não posso reclamar porque
acordei só em Berlim. Chegamos ao Wombats e a Andy estava esperando a gente.
Tomamos café e saímos caminhando até a Sinagoga Nova de Berlim. Muito bonita,
de estilo mouro, a sinagoga sobreviveu à Noite dos Cristais (graças a um
policial do distrito). Ela foi reconstruída no começo dos anos 1990 e agora
abriga uma exposição sobre a própria história da sinagoga. Quase perdemos um
Free Tour porque fomos ao lugar errado, mas ainda chegamos a tempo. O ponto de
encontro era na Unter den Linden, em frente ao Portão de Brandenburgo. O tour
foi muito bom mesmo. Passamos pelo Memorial aos Judeus Assassinados na Europa,
um enorme monumento bem no centro da cidade. Eu não sabia direito o que
sentiria ao estar na Alemanha (por tudo que ocorreu lá há poucas décadas), mas
pelo que a guia contou e pelo que se vê, senti que eles carregam uma enorme
culpa. Por isso, um Memorial daqueles em plena Potsdamer Platz. Seguimos por
Check Point Charlie, ponto de passagem de diplomatas do setor Soviético para o
Americano. Mais tarde, voltamos lá para ler painéis na rua (uma espécie de
museu a céu aberto). Passamos pelos prédios “sofisticados” de Berlim Oriental.
Eles ficam bem na fronteira com Berlim Ocidental justamente para exibir para o
Ocidente a opulência do regime Soviético. Além do mais, esses prédios ficam
exatamente em cima do bunker onde Hitler se matou. O tour ainda nos levou a uma
parte do Muro de Berlim, ao Berlinerdom e à Ilha dos Museus. Após o tour,
visitamos o Reichstag. O dia estava bonito e vimos um belo pôr do sol lá do
alto da cúpula do prédio. Pela noite, fomos à Eberwalder Strasse e comemos um
Kebab bem gostoso em um restaurante libanês. A trilha sonora começou com
músicas árabes e terminou com Garota de Ipanema.
09/04: Eu, a
Regina e a Andy acordamos cedo pra ir passear pela Karl Marx Allee. A avenida
está repleta de prédios dos tempos comunistas. Chegamos a East Side Gallery,
uma parte do Muro de Berlim que foi coberta por grafites. Bem legal. Depois, o
Jouni nos encontrou e fomos ao Brandenburg Gate para fazer mais um tour
gratuito, desta vez para Potsdam, uma cidade bem próxima a Berlim criada pelos
imperadores. Eles pretendiam criar um “paraíso”. Lá vimos uma ponte onde se
realizavam trocas de espiões capturados. Uma história famosa é a de um
americano que fazia um vôo em um avião-espião que foi abatido. Ele voltou para
o “Ocidente” por aquela ponte. Após a divisão de Berlim, a região ficou para os
Soviéticos. Muita gente rica vivia lá e acabou abandonando suas casas. A região
inclusive foi coberta de minas terrestres. Após a queda do Muro, essas pessoas voltaram
e parece que houve bastante especulação imobiliária em cima desse movimento.
Fomos ao Schloss Cecilienhof, onde foi sediada a Conferência de Potsdam. Como a
região estava sob posse da União Soviética e cada um dos principais líderes
(Truman, Stalin e Churchill) tinha sua própria entrada e região no castelo,
Stalin deixou “de presente” para Churchill uma enorme Estrela Vermelha em
frente à sua entrada. Parece também que Stalin colocou escutas nas salas
particulares dos americanos e dos ingleses. Lá em Potsdam também há um outro
Brandenburg Tor. Ainda visitamos o Schloss Sans-Souci, um palácio muito bonito.
Os jardins são obras de Carl Lineu (o mesmo das aulas de biologia). Pena que o
tempo não estava dos melhores. Entre outras histórias, o guia contou a do
“milagre da Guerra dos Sete Anos”. A Prússia de Frederico II estava em situação
complicada na guerra, mas após a morte de Catarina (imperatriz russa), os
oponentes perdem força e a Prússia se recupera. Muitos anos depois, dizem que
Goebbels teria corrido para avisar a Hitler que o “milagre” estava ocorrendo
novamente após a morte de Roosevelt. Após a volta de Potsdam, demos uma passada
no Jewish Museum (o Jouni voltou ao albergue), uma exibição sobre a história
dos judeus na Alemanha. Saindo de lá passamos pelo Sony Center, complexo com
prédios iluminados e de arquitetura moderna. Acabamos comendo e bebendo vinho
em um restaurante italiano próximo ao hostel.
10/04: Fomos
andar pelos lados de Berlim Ocidental. Fomos à Kaiser-Wilhelm Gedächtniskirche
(uma igreja bombardeada na Segunda Guerra que manteve a sua torre destruída
para lembrar o que se passou em Berlim), passamos pelo Europa Center, uma
região comercial, e pela Coluna da Vitória. Acabamos não subindo porque o céu
não estava muito aberto. Na Pariser Platz (ponto de encontro dos tours),
entramos no DZ Bank, onde se encontra uma escultura toda modernosa do Frank
Gehry (o mesmo do Guggenheim de Bilbao e Dancing House em Praga). De lá fomos
para mais um tour. Desta vez o tema era a Berlim sob domínio Soviético. Ouvimos
vários histórias da Stasi, a polícia secreta da German Democratic Republic
(GDR). No auge, chegou-se ao absurdo de existir um colaborador ou funcionário
da Stasi para cada seis habitantes. Tudo era paranóia. Várias histórias de
travessias do Muro, inclusive uma em que um homem se fantasiou de vaca e
atravessou junto com um monte de vacas. Passamos na ponte da Friedrichstrasse,
onde se passa uma cena de um dos filmes do Jason Bourne. Vimos também um trecho
do Muro como ele de fato era. Acabado o tour, passeamos pela Alexanderplatz, a
praça central, onde fica a altíssima Fernsehturm
(Torre de Televisão) construída pela Alemanha Oriental nos anos 1960.
Passamos em frente ao Rathaus, o prédio da prefeitura de Berlim. Aproveitamos
também que a Ilha dos Museus é gratuita às quintas-feiras e fomos ao Pergamon
Museum, onde ficam as obras orientais. Tinha também uma exposição com maquetes
de museus com arquitetura diferente (alguns já construídos e alguns projetos).
Na volta comprei um sanduíche no Subway e carreguei ele por duas horas até que
todo mundo achasse algo para comer. Comemos na própria cozinha do hostel.
11/04: De
manhã fomos ao Film Museum no Sony Center. O museu é bem legal pra quem gosta
de cinema. Conta a história desde os princípios e é possível assistir a vários
trechos de filmes antigos. Depois fui à Topografia do Terror, uma espécie de
museu a céu aberto com a história do nazismo, tudo em painéis na rua. Eles
pretendem construir ali um museu. Enquanto não está pronto, os painéis com o
conteúdo fica disponível a todos. Neste local parece que ficava o
quartel-general da SS. Depois disso, fomos ao tour que cobre a história do
Terceiro Reich. O guia falava um inglês
britânico super rápido, fumava um cigarro (preparado por ele mesmo) atrás do
outro e jogava a bituca no chão quando acabava de fumar. Esse processo acabou
me irritando um pouco, mas de qualquer maneira, eles nos contou tudo desde a
ascensão do Hitler até sua morte. À tarde voltei pro hostel e dei uma
descansada, pois estava bem cansado. Eu e a Andy fomos passar o Shabat na
sinagoga na Rykenstrasse. A sinagoga tinha o mesmo jeito da CIP, mas pouca gente
estava presente. Depois, voltamos ao hostel, encontramos com a Regina, o Jouni,
uma amiga brasileira da Regina e um peruano chamado Raul (que estava no nosso
quarto) e fomos a uma balada bem alternativa e legal chamada Bang Bang. Ela
ficava debaixo de uma ponte. O pessoal era bem diferente e tocava um rock
legal. Tomei umas Erdinger bem boas.
· 12/04: Fizemos
o check-out logo após o café da manhã e deixamos as malas lá. Fomos para o Deutsche
Historische Museum que conta tudo sobre a história da Alemanha. De lá eu e o
Jouni voltamos para o albergue, pegamos as coisas e pegamos um trem e um ônibus
para o aeroporto Berlim Schöenefeld. Pegamos uma longa fila para fazer o
check-in e tudo estava totalmente desorganizado. Lembrou o nosso apagão aéreo.
No fim das contas, o vôo atrasou pouco mais de uma hora. Chegando em London
Luton pegamos um ônibus para Southampton (trocando em Heathrow) e chegamos
perto da meia noite. Como não tinha mais ônibus essa hora, andei da
Universidade até meu alojamento. Chegando no alojamento tinha esquecido o
código para abrir a porta. Resolvi tentar ligar para alguém e perguntar, não
tinha crédito no celular. Quando eu estava quase desistindo e sentando na
porta, chegou um táxi com gente de lá e eles me disseram o código.