Relatos de um estrangeiro

Durante a primeira semana, as únicas coisas que fiz foi conhecer a cidade, fazer compras no mercado e procurar um lugar definitivo para morar. No dia em que cheguei, por ter dormido muito no avião e pelo sol ir se pôr quase que às 21:00, fui durmir às 4:00 da manhã. Acordei pra lá do meio dia, no fim do dia resolvi fazer compras para o café da manhã do dia seguinte. Foi o dia que fiz minha besteira de extrangeiro. Quem nunca viajou para fora do seu país e acabou dando uma mancada? A minha foi uma releitura do que já presenciei. Fui ao mercado comprar  pão e leite, fui na área de laticíneos e vi iogurte em garrafas, e dois tipos de leite em caixa, "lait demi-écremé" e "lait battu", na pressa e no nervosismo, só li "lait demi", então eu pensei, esse deve ser o leite semi-desnatado, o outro deve ser o integral. Sem nem ler o outro, peguei e fui pagar. No dia seguinte, quando fui tomar meu café da manhã, senti aquele gosto azedinho, na hora eu lembrei do meu pai que fez a mesma coisa no Japão. Cai na risada e fui ler a caixa, nada menos do que iogurte natural. Lição que aprendi, morar fora=fazer besteira.
Conheci a cidade, ímpar, não vi nada igual até hoje. A cidade foi feita para a Universidade, para atender as necessidades dela e dos seus estudantes. No centro da cidade, é proibido andar de carro, existe uma delimitação onde os carros andam, quem vai de carro para o centro é obrigado a estacionar no subsolo e subir pelo elevador, ou você anda a pé ou de bicicleta, nada de carros. O mesmo acontece em algumas áreas urbanas, não se pode trafegar de carro por qualquer lugar. Porém, se você for a um bairro um pouco mais distante, dificilmente encontrará uma calçada para andar durante o trajeto, mas com certeza terá uma ciclovia esperando por você. Como estou em bairro próximo do centro, não me importam carros nem bicicletas, o negócio é andar. Tudo está próximo, o centro fica a 10 minutos de onde estou, e acho que está a no máximo 15 minutos do lugar mais afastado dos bairros urbanos da cidade.
Essa cidade é encantadora, seus prédios são bucólicos e rústicos, quase todos de tijolinho e alguns deles lembram uma época medieval, além disso, eles se misturam com a modernidade, detalhes que são vistos até pelos cegos. Não tenho outras palavras, ímpar e encantadora.
Algo que demorei para me acostumar foi andar nas ruas, a questão é o seguinte, você está acostumado a andar por ruas com nome de ruas, passar por vielas e passagens, mas são apenas vielas e passagens, porém, aqui em Louvain-la-Neuve, o que chamamos de viela e passagens são ruas, e por esse motivo me perdi inúmeras vezes. Foi uma aventura até me acostumar, cansei de passar por uma rua aqui perto, sempre achando que fosse um estacionamento, até descobri que era rua quando tive que procurar um quarto por lá. Outra rua bem estranha que encontrei foi uma que passava pelo meio do prédio, fora as ruas que você achar ser uma trilha. Me perdi muito procurando quarto para alugar, pelo menos eu já conheço grande parte da cidade.
Fui fazer minha matrícula na Universidade, porém, descobri que só consigo fazer a matrícula se tiver um contrato de locação, depois fui tentar fazer meu registro de estrangeiro, também não é possível até que eu tenha um contrato de locação. Ou seja, o primordial a se fazer é conseguir um lugar para morar. Sem isso, não consigo fazer mais nada. Portanto, para aqueles que pedem fotos, já adianto que não tirei em virtude da minha prioridade em achar uma casa.
Durante a primeira semana, cozinhei quase todos os dias, as únicas vezes que não fui cozinhar foi quando comprei uma lasanha de microondas e quando jantei um hamburguer, era bom mas podia se melhor.
Falam tanto dos chocolates, das batatas fritas, das ostras, das cervejas e dos waffles, Não provei nada disso durante a primeira semana, infelizmente.