Galegos por aí

Depois de alguns dias na cosmopolita Istambul, um episódio no voo para Malé no fez pensar muito nas diferenças culturais. Voo internacional com destino a Colombo, no Sri Lanka e escala em Malé, nas Maldivas. Lógico que havia muitos passageiros turcos, do Sri Lanka e das Maldivas, além de muitos outros europeus e asiáticos (além de dois brasileiros). Portanto muitos muçulmanos e pessoas religiões diversas.

Quando o avião já estava taxiando para decolar, se dirigindo para a cabeceira da pista, ouvimos a algumas poucas fileiras atrás de nós um homem repetir várias vezes de forma incisiva: - TROQUE DE LUGAR! Ele passou a gritar essas palavras e se tornou bem agressivo. Todos olharam para ver o que estava havendo. Ele se levantou, apontou para uma moça que estava no assento à sua frente com o namorado, e começou a xingá-la de prostituta, dizendo que ela estava mostrando cenas obscenas para o rapaz, e que ele estava com seu filho, seu único filho, e que não permitiria aquilo. A moça respondia que não mudaria de lugar e ele continuava gritando. As comissárias vieram, mas não conseguiram acalmá-lo. Ele ameaçou bater no nomorado, embora estivesse claro que se ele pudesse, bateria era nela! Mandou parar o avião, que continuava taxiando. Gritou que não iria mais voar de jeito nenhum, enquanto continuava xingando a moça e tentando explicar seus motivos aos berros. Quando ela mandou ele se fu... ele partiu para cima do rapaz, e foi o maior quebra pau! Socos para todos os lados, com vários passageiros tentando segurar ambos que eram muitos fortes. Levaram o casal para a parte da frente do avião. Aí o homem começou a caminhar pelo corredor explicando em voz muito alta seus motivos, do absurdo que era a moça mostrar um vídeo com aquele conteúdo de m... para seu namorado e que ele não podia permitir que seu único filho visse aquilo (era um menino de uns 10 anos).

O avião por fim parou. Ele afirmava que iria descer com sua família, que não viajaria mais. A esposa estava visivelmente envergonhada, mas não deu uma só palavra, além daquelas dirigidas ao filho para acalmá-lo. Alguns pais falaram que ele estava assustando as demais crianças. E ele pedia desculpas a todos, dizia que os filhos dos outros eram seus filhos, mas que ele era muito explosivo e não podia permitir aquilo. Repetia que esperava que nós todos tivéssemos boas férias, mas que ele iria para a cadeia. Ligou o celular e repetiu gritando a mesma ladainha, em turco e em inglês, pois estava claro que ele queria que todos o entendessem. Ele não parava de gritar, estava muito descontrolado.

O avião taxiou de volta, a polícia chegou, retiraram o cara, que não parava de berrar, com a família e deixaram o casal na primeira classe (premiados!). Quando os policiais entraram no avião as aeromoças e passageiros próximos informaram que era um vídeo de um aniversário e que parece que havia imagens da moça de bikini, mas nada demais.

Enfim, stress total, um atraso de uma hora e meia na decolagem e um mal estar geral. Por quê? Dá para fazer boas considerações sobre o assunto.

Não sabemos como o homem abordou a moça a princípio, mas ela mostrou que não era do tipo de ficar calada. E quando o negócio apertou, ela também não se conteve. Seu namorado não abriu a boca hora nenhuma, nem para responder, nem para defendê-la, nem para retirá-la dali. Sua única reação foi se defender dos docos que levou.

O fato é que o que para nós parece muito normal era intolerável para aquele homem, que  estava muito convicto de que estava com a razão.

Acabamos de ver que o sorteio dos jogos da Copa foi proibido de passar no Irã devido à roupa da apresentadora Fernanda Lima, um belo vestido justo de alcinhas, decotado e um pouco acima do joelho. Nada demais para nós, mas um insulto para eles.

Diferenças. De cultura, de religião, de pensamentos...

E assim o mundo gira.